quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mesmo com cura, hanseníase ainda se espalha pelo país


39 mil novos casos da doença em 2008
No ano 2000, quando recebeu um telefonema do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Mohran), convidando-o para trabalhar como voluntário no combate à doença, o cantor Ney Matogrosso levou um susto.
- Achava que hanseníase não existia mais. Conhecia a doença porque minha mãe criou uma menina vinda de um leprosário, mas não imaginava que o Brasil ainda tivesse algum caso - diz Ney, que desde então faz campanhas de esclarecimento em todo o país. - Ainda há muito preconceito, e o governo parece não querer acabar com a doença.
Uma das enfermidades mais antigas do mundo, a hanseníase passou a ter cura na década de 40, quando as pessoas eram isoladas compulsoriamente. Desde a década de 90, a Organização Mundial da Saúde (OMS) distribui a medicação de graça. No Brasil, pacientes reclamam que falta remédio por causa da burocracia alfandegária e também por causa da subnotificação.
- Percorremos o país conversando com as pessoas e sabemos que, mesmo sendo obrigados a notificar todos os casos, que alguns médicos não cumprem, o que faz com que remédios faltem especialmente no interior.
Além disso, em estados do Sul, o tratamento que deve levar no máximo um ano, leva 36 meses porque os pacientes acham que assim ficarão mais curados - conta Artur Custódio, coordenador do Mohran. Saúde quer reduzir em 10% número de casos até 2011 Segundo dados da OMS, o Brasil fechou o ano de 2008 com 39 mil novos casos de hanseníase diagnosticados, atrás apenas da Índia, responsável por 54% de todos os 249 mil casos registrados no mundo. Mas aparece como o número um do ranking se a conta for feita segundo a taxa de prevalência da doença: com população de 190 milhões de habitantes, o país tinha em 2007 taxa de 21,94 casos para cada 100 mil habitantes.
Além disso, ainda segundo a OMS, nas Américas, o Brasil é líder no ranking de novos casos: foram 44,4 mil em 2006, dos 47, 6 mil diagnosticados em 51 países.
O país também é um dos três, ao lado do Nepal e do Timor Leste, que não conseguiram cumprir a meta, firmada em 1991, de ter um caso da doença para cada 10 mil habitantes até 2005.
O Ministério da Saúde reconhece que a meta não foi cumprida, mas ressalta que isso não é importante e que a taxa de prevalência vem caindo desde 2007.
Segundo dados do ministério, em 1994 foram registrados 3.055 casos em menores de 15 anos. Em 2007, foram 2.148. Coordenadora do Programa Nacional de Controle da Hanseníase, Maria Aparecida de Faria Grossi, diz que o país tem que "se orgulhar das condutas para tratar da hanseníase".
- Em 2008, tivemos 2.913 crianças com menos de 15 anos diagnosticadas. Isso representa 7,5% de todos os casos do país.
Em 2007, o número chegava a 8%.
Estamos vigilantes. Então, não é o mais importante não termos atingido a meta - diz ela, lembrando que o país não prega mais a eliminação da doença, e sim o controle.
- Não falam em eliminar a tuberculose. Nossa principal meta é diminuir a taxa de detecção em 10% entre 2009 e 2011.
Centro-Oeste, Norte e Nordeste têm taxas altas da doença De acordo com Maria Aparecida, as taxas mais altas estão nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. No Tocantins, em 2008, foram registrados 103 casos para cada 100 mil habitantes.
- Monitoramos o país e o dividimos em dez regiões, que chamamos de clusters. Temos 17% de toda a população residindo em 1.173 municípios. Esses locais registraram 53,5% de todos os casos entre 2005 e 2007.
Além do ministério, o Mohran também cruza o país para diagnosticar novos casos. Desde 2008, uma carreta percorre os municípios do Cluster 1 (Pará, Tocantins, Piauí e Maranhão). Nesse primeiro ano, foram visitados 34 municípios nos 162 dias de ação.
- Diagnosticamos 1.315 casos - diz Artur Côrrea, que dá palestras sobre a doença. - Passamos três dias em Taboão da Serra, em São Paulo, e encontramos quatro casos. Em um ano, o ministério diagnosticou três.

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